Ando lendo o livro Ora Bolas, o humor cotidiano de Mário Quintana. São 121 histórias compiladas e adaptadas porJuarez Fonseca, pela Editora Artes e Ofícios. Confesso que não consigo conter o riso em nenhum momento da leitura e me divirto imaginando o poeta nas situações narradas. Ele era mesmo um anjo, muito maroto.
VALES
Na época em que trabalhava na Editora Globo, ele andava sempre duro. O salário terminava bem antes do fim do mês, vivia pedindo vales de adiantamento. Em determinado dia, o caixa chiou:
_ Mas, seu Mário, o senhor já tem um monte de vales!
Quis saber com aquele sorriso maroto:
_ Afinal, são vales ou são montes?
NOMES FEIOS
Início de mais uma madrugada. Mário chega à pensão em que morava, na Barros Cassal, perto da avenida Independência e é mal recebido pelos cachorros. Reage aos latidos com todos os palavrões disponíveis. Na calçada, os pintores Waldeny Elias e Gastão Hofstaetter, que passaram a noite bebendo com ele e vieram deixá-lo em casa, assistem à cena.
Em meio à gritaria, abre-se a janela e surge a dona da pensão:
_Mas o que é isso, seu Mário! O senhor, um homem tão culto, dizendo essas barbaridades!
Ele se defende:
_É que a senhora não sabe os nomes que os seus cachorrros estão me dizendo...
PERGUNTADEIRAS
Ele tinha que o maior chato é o chato perguntativo. E apesar de toda a admiração que nutria pelas mulheres, às vezes nem elas escapavam dessa classificação. Carlos Nejar lembra do dia em que ambos foram a Bento Gonçalves para autografar seus livros e conversar com estudantes. No pergunta daqui, pergunta dali, uma universitária, bonita e espevitada, não resistiu e quis saber:
_Mario, por que não te casaste?
Deu uma de suas respostas feitas:
_Porque as mulheres são muito perguntadeiras.